Existe uma magia particular quando mulheres se reúnem.
Uma energia que transforma espaços, que cura feridas, que constrói pontes. E não é de hoje – através dos tempos, os círculos femininos têm sido fonte de sabedoria, apoio e transformação.
Me peguei pensando nisso outro dia, assistindo a um vídeo que viralizou no TikTok: um grupo de amigas se reuniu para fazer uma mega faxina na casa de uma grávida prestes a dar à luz.
Ali estava, em 2025, uma tradição tão antiga quanto a própria humanidade – mulheres se unindo para cuidar de uma nova mãe.
Em outro vídeo, mulheres se organizaram num “food train” – um revezamento para levar refeições para uma mãe recém-divorciada com três filhos e sem família por perto. A cada dia uma mulher deixava uma travessa contendo o jantar para aquela família.
A internet só deu nova roupagem para algo que nossas ancestrais já faziam: cuidar umas das outras.
Penso na minha própria história. Foi minha irmã quem me ensinou pacientemente a lavar roupa (“não, não é só jogar tudo junto na máquina!”) e alguns vários segredos na cozinha.
Com ela, aprendi que ensinar é um ato de amor – não há julgamento, não há pressa, há apenas o desejo genuíno de passar adiante um conhecimento.
Com minhas amigas, aprendi os mistérios da maquiagem. Lembro de uma tarde específica, sentada no chão do quarto de uma delas, todas em volta do espelho, rindo das tentativas desastradas de fazer um gatinho.
Mais do que técnicas de beleza, ali eu estava aprendendo sobre aceitação, sobre como podemos ser imperfeitas juntas, sobre como o erro pode ser leve quando compartilhado.
Minha cunhada, com sua organização impressionante, me ensinou sobre gestão do tempo. Mas não foi uma aula formal – foi observando, perguntando, absorvendo. É assim que o conhecimento flui entre mulheres: natural como água, generoso como chuva.
Historicamente, os encontros femininos sempre foram espaços de transmissão de conhecimento. Nas antigas sociedades, eram as mulheres mais velhas que guardavam os segredos das ervas medicinais, passando esse conhecimento através de gerações.
Nas cortes medievais, damas se reuniam em seus solares para bordar – e ali, entre pontos e linhas, trocavam não apenas técnicas, mas sabedoria de vida.
Nas cozinhas vitorianas, receitas eram passadas de mãe para filha, de avó para neta – mais do que instruções culinárias, eram lições sobre nutrição, cura, cuidado.
Nas salas de costura do século XIX, mulheres não apenas teciam roupas, mas redes de apoio que duravam toda uma vida.
E hoje, em 2025, continuamos nos reunindo. Em grupos de corrida no parque, em clubes de leitura, em aulas de yoga, em cafés depois do trabalho. Os cenários mudaram, mas a essência permanece: quando mulheres se reúnem, algo especial acontece.
Porque é no encontro com outras mulheres que muitas vezes nos encontramos. É no espelho dos olhos delas que reconhecemos partes nossas que nem sabíamos existir. É na história delas que nossa história faz mais sentido.
Em grupo, aprendemos sobre nós mesmas de uma forma que seria impossível sozinhas. E quanto mais saudável o grupo, mais profundo e transformador é esse aprendizado. Um círculo de mulheres com intenções positivas é como um espelho multifacetado – cada uma reflete uma possibilidade diferente de ser, de existir, de florescer.
Não é por acaso que, nas antigas tradições, momentos importantes da vida feminina eram celebrados em comunidade. A primeira menstruação, a primeira gravidez, o nascimento de um filho, a passagem para a maturidade – tudo era honrado na presença de outras mulheres.
Porque há sabedoria em não atravessar sozinha os momentos significativos da vida.
E talvez seja isso o que acontece quando mulheres se reúnem: criamos espaços seguros para sermos quem somos. Para aprendermos o que precisamos. Para crescermos no nosso próprio ritmo. Para celebrarmos nossas vitórias e chorarmos nossas perdas. Para sermos imperfeitas, vulneráveis, humanas.
Porque quando mulheres se reúnem com propósito e afeto, algo ancestral se desperta. Uma sabedoria que vai além das palavras, um entendimento que transcende o tempo. Um conhecimento que não vem dos livros, mas da vida vivida e compartilhada.
E você, quando foi a última vez que se permitiu estar verdadeiramente presente num círculo de mulheres? E que sabedoria está esperando para ser descoberta no encontro com outras como você?