Convivo com a ansiedade desde a infância. Ela sempre esteve presente, marcando sua existência nos meus dias, moldando minhas experiências e, por vezes, me desafiando a encontrar formas de acolhê-la sem ser engolida por ela.
Ao longo dos anos, desenvolvi e refinei inúmeras estratégias para lidar com suas chegadas inesperadas. Respiração, meditação, caminhada, escrita, leitura, pedir ajuda, mudar a alimentação, tomar um banho quente, ouvir música… Eu testei de tudo. E um pouco mais.
Mas houve um dia em que, ao sentir uma crise se aproximar, algo diferente aconteceu. Meu corpo pedia por aconchego, meu cérebro buscava um amortecimento para as agulhadas invisíveis que pareciam perfurar cada parte de mim.
Foi então que percebi: eu queria um abraço.
Instintivamente, tentei me envolver nos meus próprios braços, mas não foi suficiente. Então, procurei a manta mais macia que encontrei, me enrolei nela, sentei numa cadeira, deitei a cabeça sobre a mesa e abracei meu próprio corpo.
E fiquei ali. Apenas presente. Me abraçando.
Aos poucos, minha respiração foi voltando ao normal. Os pensamentos desaceleraram. As agulhas perderam suas pontas. Em termos técnicos, eu estava me autorregulando.
Mas, naquele momento, o que senti foi muito mais do que um processo psicológico acontecendo dentro de mim.
Foi cuidado.
Foi um abraço.
Foi o melhor abraço que já recebi.
Sorri e me emocionei.
Até aquele momento, eu acreditava que o abraço mais especial da minha vida vinha de TM, meu marido. E, de fato, incontáveis vezes, foram os braços dele que me ajudaram a me sentir segura e acolhida. Mas, naquele dia, ele não estava ali.
E não importou, porque me fui suficiente.
Enquanto rabisco essas palavras, penso sobre como é valioso amar alguém capaz de ajudar a regular nossos estados internos. Mas talvez ainda mais especial seja ter essa capacidade dentro de nós mesmas.
Minha ansiedade continuará sendo minha companheira mais fiel – e isso já não me assusta há muito tempo. Sei que suas visitas serão frequentes, e está tudo bem.
Porque naquele dia eu descobri algo maior: não importa a intensidade do que venha de dentro, minha capacidade de me cuidar é ainda mais forte.
Em outras palavras: Pode vir, ansiedade. Eu me protejo muito mais do que você pode me machucar.