Eu abri espaço no meu perfil do Instagram, essa semana, para que minhas seguidoras me contassem sobre experiências ruins que tiveram com prestadores de serviço. Os exemplos foram vários. Alguns foram verdadeiras histórias de terror. Outras, falhas mais suaves, mas que, somadas ao longo do tempo, fizeram com que elas, como clientes, ficassem completamente desencorajadas com o tratamento. Esse texto é um resumo das minhas reflexões sobre o assunto, uma tentativa de te ajudar, como profissional & como cliente.
Dividi os problemas em duas categorias. Problemas pessoais e Limitações afetivas. Boa leitura! 🙂
Problemas pessoais no exercício profissional
Chamo de problemas pessoais quando a vida do profissional (como um todo) avança na profissão. Em alguma medida, acho bem compreensível. Somos humanos, e temos mais do que só nossos trabalhos para lidar. Ao mesmo tempo, algumas coisas precisam ser vistas como absolutamente inadmissíveis.
Recebi muitos exemplos disso. Atrasos frequentes, profissionais que literalmente cochilavam durante a sessão, uma que conduziu a sessão de uma rede porque estava “com cólica e dor de cabeça”, outra que esqueceu da sessão porque no aeroporto…
Eu sou psicóloga, e talvez isso me empreste alguma vantagem no compreender disso tudo. Consigo, por um lado, imaginar as variáveis organizando cada um desses comportamentos. Por outro, SENDO profissional, SEI como tantas coisas interferem com nossos trabalhos. Um filho doente, um processo de separação, falta de rede de apoio, doenças mentais…
Eu sei que existem motivos para cada um dos atrasos, e até para os cochilos nos atendimentos. A explicação é possível. Mas a justificativa é inviável.
É inviável porque a pessoa te contrata como profissional, não como pessoa física. E, ainda que um invariavelmente contemple o outro, o segundo deveria ser quase invisível no primeiro.
Quem me contrata não tem nada a ver com minha ausência de capacidade de planejamento, e minha dificuldade em prever variáveis como o trânsito, por exemplo. E, portanto, não deveria lidar com meu atraso. Não é problema da pessoa!
Muito pelo contrário: quem contrata, contrata para que o outro ajude a resolver um problema. Não contrata para que o profissional crie outro. Muito menos deve esperar-se dele que seja compreensivo com um problema que não é seu.
Quem contrata precisa de solução, não de desculpa.
Aos profissionais
Você é responsável pela gestão da sua vida de forma tal que ela respingue o mínimo possível no seu trabalho. Acredito que isso seja especialmente difícil para os prestadores de serviço. É muito mais difícil ser rígido, quando você é seu próprio chefe.
Minhas clientes que trabalham no corporativo têm muito menos dificuldade de se portar como profissionais do que as prestadoras de serviço. Me parece que a instituição regula o comportamento com muito mais eficiência do que conseguimos sozinhas.
Sendo assim, vou te ensinar como você deve agir, entendendo que seu cliente é seu chefe. Ao seu cliente não importa:
Se você tem dificuldade com cumprir horário, você precisa ser pontual. Se vira! Programe alarmes, estude a respeito, melhore.
Se você está cansada, exausta, sobrecarregada. Procure um psiquiatra, nutricionista e endocrinologista. Veja o que pode ser resolvido com suplementação e medicação. Problema é seu!
Aos clientes
Não é sua função lidar com os problemas de quem te atende. Se um profissional não está te atendendo como você gostaria, você deveria se sentir confortável o suficiente para:
1- Reclamar, pontuar seu incômodo, e observar como o profissional maneja isso.
2- Simplesmente sair da relação.
Limitações afetivas e emocionais
Essa é especialmente grave em profissionais da Psicologia. Alguns exemplos disso foram: psicóloga agir como mãe do paciente, passar a mão na cabeça mediante erros, mandar mensagens entre sessão, etc. Falar sobre política ou religião na sessão, não como quem tenta ajudá-lo com suas próprias demandas a respeito, mas como quem quer mudar a perspectiva do cliente. Encerramento completamente inadequado de tratamento (i.e, terapeuta simplesmente sumir, parar de responder mensagens).
Nós, terapeutas, estabelecemos com nossos clientes uma classe completamente diferente de relação. Se, como seres humanos, somos e estamos o tempo todo afetivamente implicados, em todos os nossos contextos, o psicólogo se depara com isso de forma muito mais grave, em seus atendimentos. A terapia acontece DENTRO DA relação terapêutica, afinal.
Pressupõe a interação e conexão entre duas pessoas: terapeuta, e cliente.
Não tem como supor ou esperar que você vá conseguir se despir completamente de tudo aquilo que te importa e é significativo na sua vida, ao atender. Suas questões vão, invariavelmente, aparecer.
Mas é elementar que apareçam o mínimo possível. Aquilo que escapar dos seus esforços, estudos, supervisão e atenção. Apenas o que você de forma alguma conseguir controlar.
Você foi contratado para servir, não para ser
Me parece radical que terapeutas compreendam que são contratados, como qualquer outro profissional. É uma relação, antes de qualquer coisa, contratual. A terapia do seu cliente não é lugar para você manifestar as suas crenças, ou expressar os seus problemas.
A terapia do seu cliente é espaço DELE.
Você está ali para SERVIR, não para SER.
Que nossos esforços, como profissionais, sejam a cada dia de forma muito mais intencional e cuidadosa, direcionados para tratarmos nossos clientes com o respeito, atenção e cuidado que merecem.
E que nossos esforços, como clientes, sejam sempre de não aceitar menos do que aquilo que achamos justo e digno.
Gostou do texto? Envie para alguém que trabalha com atendimento. Ou para alguém que precisa se lembrar de que, em certas relações, a ética vem antes da empatia.