Em um casamento, nem sempre o outro se engaja na melhora da relação como você – ou como você gostaria. E não é fácil lidar com a desilusão e a tristeza de se ver enfrentando as dificuldades de um relacionamento sem a participação e reciprocidade das outras partes envolvidas.
Eu sei bem. Eu sei bem.
Esses dias, pensando sobre isso, desenhei a seguinte história.
A história do homem e a arma
Um homem, pressionado por sua esposa a ser protetor – ela viu algum influenciador falando sobre esse ser o papel do homem, e agora não parava de falar sobre isso – perguntava a outro sobre qual seria a melhor arma para proteger sua família, caso um bandido entrasse em sua casa.
O outro homem, que sabia mais sobre esses assuntos, sugeriu primeiro uma arma de fogo.
“Nada é tão eficiente quanto o mais agressivo”, ele disse.
“Credo! Eu não quero algo tão violento. Não, não… arma de fogo é demais. Não é pra tanto!”
“Uma barra de ferro, então?”
“Eu não tenho força pra carregar um trem pesado desses. Não, barra de ferro, não.”
“Um taco de baseball, quem sabe? É mais leve, mas é bem capaz de fazer um estrago, nas mãos certas.” – respondeu o amigo, já cansado, como quem não tinha mais opções.
“E quem disse que eu conseguiria acertar, na hora que precisasse?”, retrucou o homem.
Entenda, pela quantidade de desculpas e objeções às soluções apresentadas, fica claro: o homem não queria proteger sua família. Ele foi pressionado a isso. E foi conversar com um amigo como quem queria o alívio da sensação (ainda que passageira) de ter feito algo com a intenção de protegê-la.
Perguntar ao amigo o que poderia fazer… já deveria contar como ter feito alguma coisa, não?!
A intenção que não se transforma em ação
Te pergunto: tem algo de inerentemente errado em não querer proteger sua família?
Não necessariamente.
Mas é, sim, no mínimo imprudente deixar para lidar com ameaças só quando elas se apresentam diante de você. É muito melhor consertar o telhado quando o sol está brilhando, costumo dizer. Seria muito melhor preparar-se para uma possível invasão, antes que ela acontecesse.
E, por mais desconfortável que fosse a solução possível, qualquer solução é melhor do que o problema. Lidar com a agressividade da arma, o peso da barra de ferro, ou a chance de errar com o taco de baseball ainda seria muito melhor do que perceber-se inerte frente a uma ameaça ao bem estar de quem você ama. Mas essa é a prerrogativa de quem tem problemas. Poder tentar resolvê-los, ou não.
O homem, então, sofria de falta de desejo, preguiça e irresponsabilidade – mas não posso dizê-lo errado.
Fiquei pensando quantas vezes, em relacionamentos amorosos, é assim. Você apresenta seu desejo, necessidade ou preferência, e ao outro cabe a possibilidade de atendê-los ou não.
A frustração começa no segundo em que você percebe que o outro só vai fazer aquilo que quiser.
Desejo é o que move
E veja que eu falei em querer, não em conseguir.
Porque, via de regra, desejos muito fortes não medem esforços.
Não importa qual o tamanho do braço de alguém: em uma relação amorosa, com desejo suficiente, qualquer um consegue quase qualquer coisa.
(Claro, estou falando de coisas factíveis e possíveis – não de completas transformações de personalidade ou jeitos de ser.)
Acontece que nem sempre o outro vai querer a mudança tanto quanto você.
Às vezes, inclusive, ele não vai querer nem um pouco, mesmo que você queira muito.
E aqui, não importa quanto você insista, chore, implore, suplique, sugira, dê indiretas. O outro só vai fazer aquilo que quiser.
O que cabe a você
A você, infelizmente, cabe o respeitar da decisão.
Não tem como forçar ninguém a ser qualquer coisa diferente do que se é.
Não tem como forçar ninguém a querer coisa alguma.
Mas a você, felizmente, cabe o respeitar dos seus desejos.
Cabe cuidar, na medida do que for possível – respeitando os limites da relação – de atender-se a si mesma.
A você, cabe cuidar de você.
Cuidar do seu jardim. Das suas flores.
Da sua autoestima. Da sua autoconfiança.
Dos seus sonhos. Dos seus projetos de futuro.
A você, cabe cuidar de você.
Que, se tudo der certo, seu agir inspira o outro.
E ele passa a cuidar de você, também.
Se não… pelo menos alguém estará fazendo isso.
Se esse texto tocou alguma ferida sua, compartilha com alguém que também precisa se lembrar de que autocuidado é parte de amar. Ou deixa um comentário – quero te ouvir. 🤍