É muito provável que em algum momento da sua vida, você tenha ouvido ou pensado que cuidar de si mesma é egoísmo. Afinal, vivemos em uma sociedade que glorifica o sacrifício, especialmente para as mulheres.
Ser “boa mãe”, “boa esposa”, “boa amiga” ou até “boa funcionária” muitas vezes está associado à ideia de se doar sem limites, de colocar as necessidades dos outros sempre acima das suas.
Mas deixa eu te contar uma verdade importante: cuidar de si mesma não é egoísmo; é sobrevivência emocional.
O mito do sacrifício feminino
Nós crescemos ouvindo histórias de mulheres que deram tudo de si pelos outros.
Mães que largaram sonhos pela família, mulheres que engoliram seus sentimentos para manter um relacionamento ou até mesmo amigas que sempre estiveram disponíveis, mesmo que isso significasse abrir mão de seus limites.
Crescemos ouvindo essas histórias como se fossem positivas. Como se o auto-sacrifício fosse não apenas o esperado de nós, mulheres, mas também o saudável.
Crescemos ouvindo que o valor da mulher está associado a quanto ela está disposta a abrir mão de si em prol do outro.
É como se fosse uma medalha de honra ser aquela que sempre diz “sim”, mesmo que isso a machuque por dentro.
Mas essa ideia é tão prejudicial quanto antiga. Porque se você vive para agradar os outros, quem está cuidando de você?
O que é o verdadeiro egoísmo?
Vamos esclarecer algo aqui: egoísmo é agir de forma a prejudicar os outros para se beneficiar. É passar por cima das necessidades alheias para satisfazer os próprios desejos, sem considerar o impacto disso.
Por outro lado, autocuidado é sobre se priorizar sem tirar nada de ninguém. É sobre garantir que você está bem para que possa oferecer o melhor de si ao mundo — para sua família, seus amigos, seu trabalho e, principalmente, para si mesma.
Quando você coloca limites saudáveis, tira um tempo para descansar ou escolhe dizer “não” a algo que não faz sentido para você, isso não é egoísmo. Isso é respeito por si mesma.
A base para relacionamentos saudáveis
Imagine que você é como uma jarra cheia de água. Cada vez que você se dedica a outra pessoa — seja emocionalmente, fisicamente ou mentalmente — você está despejando um pouco dessa água. Se você nunca se recarrega, o que acontece? Você se esvazia.
E jarra vazia não enche copo de ninguém – é o que eu venho dizendo há anos.
O autocuidado é o que garante que essa jarra continue cheia, por você E PARA os outros.
Quando você se prioriza, você naturalmente tem mais energia, paciência e empatia para oferecer a quem você ama.
O que, por sua vez, cria relações mais equilibradas, onde ninguém está se anulando ou exigindo demais do outro.
Na prática, isso significa que, quando você diz “não” para algo que não pode fazer, você está dizendo “sim” para o seu bem-estar.
Quando você tira um tempo para descansar, você está garantindo que terá energia para estar presente nos momentos que TE importam.
Quando você cuida da sua saúde mental, você está construindo uma base emocional mais forte para lidar com os desafios da vida.
Como desconstruir essa crença
Se você ainda sente culpa ao se priorizar, é importante refletir sobre as crenças que você carrega. E eu vou te ajudar com isso, com as perguntas a seguir:
De onde veio essa ideia de que cuidar de mim é errado? Talvez tenha vindo da família, da cultura ou até das mídias sociais. Identificar a origem pode ajudar a enxergar que essa ideia não é sua, mas sim algo que você absorveu ao longo do tempo. E que pode, portanto, reformular, já que novas evidências foram apresentadas.
O que acontece com as pessoas ao meu redor quando eu não me cuido? Quando você está sobrecarregada, você pode acabar descontando o estresse em quem ama ou se afastando emocionalmente. Isso mostra que o autocuidado não é apenas benéfico para você, mas também para quem te cerca.
Que exemplo eu quero dar para as próximas gerações? Se você tem filhas, sobrinhas ou outras mulheres jovens na sua vida, que mensagem você quer passar? Você gostaria de ver sua filha, sobrinha ou qualquer outra mulher que você ame e estime, cuidando de si da mesma forma que você se cuida? Pois é. Entenda que, ao se cuidar, você ensina que elas também têm o direito de se priorizar.
Comece pequeno
Nesse ponto da leitura, espero, você já está convencida. Mas depois de uma vida toda de negligência, pode parecer quase impossível começar. Eu sei bem como é.
Se priorizar pode ser desafiador no início, mas não precisa ser complicado. Aqui estão algumas formas simples de praticar o autocuidado sem culpa:
- Reserve 15 minutos do seu dia para algo que te faz bem, como ler, meditar ou apenas respirar fundo. São só 15 minutos!
- Experimente dizer “não” para compromissos que você não pode ou não quer assumir.
- Comece a, com curiosidade, observar seus pensamentos, emoções e comportamentos. Desenvolva interesse genuíno por aquilo que você pensa, sente e faz. Esse é o primeiro passo para conquistar mais flexibilidade e saúde mental.
Espero que essas linhas tenham sido suficiente para deixar claro para você que autocuidado não é egoísmo; é uma forma de garantir que você possa viver de maneira plena e autêntica.
Quando você se cuida, você não está tirando nada de ninguém — você está adicionando mais energia, amor e presença à sua vida e às vidas das pessoas que importam para você.
E lembre-se: não há nada de errado em se escolher. Porque, no fim das contas, o que você tem para oferecer ao mundo é reflexo do que você oferece a si mesma.