Ela estava sentada à minha frente no consultório, impecavelmente vestida, cabelo perfeitamente arrumado, unhas feitas. Diretora de uma multinacional, casada, mãe de dois filhos. “Sabe, Chlô”, ela disse, segurando as lágrimas, “às vezes me sinto a pessoa mais sozinha do mundo, mesmo tendo tudo que sempre sonhei”.
Como psicóloga especializada em autocuidado e relacionamentos, ouço variações dessa mesma confissão quase diariamente. É uma epidemia silenciosa que afeta especialmente mulheres bem-sucedidas – aquelas que, aos olhos do mundo, “têm tudo”.
Mas por que isso acontece?
Desde pequenas, somos ensinadas uma mensagem contraditória: “Seja bem-sucedida, mas não tanto que intimide os outros”. “Conquiste seus sonhos, mas mantenha-se humilde”. “Lidere, mas não seja autoritária”.
É uma dança complexa que executamos diariamente: diminuir nossas conquistas para não causar desconforto, sorrir mais para parecer mais acessível, pedir desculpas antes de expressar uma opinião forte.
E nessa dança, vamos nos isolando.
Como consequência, nos sentimos – e estamos! – sozinhas. Mas acontece que não é fácil de identificar essa solidão que muitas vezes mascara-se de “força” e “independência”. Na verdade, pode ser muito difícil. Ao longo dos anos, fui mapeando alguns sinais que observo frequentemente em minhas clientes. Vou dividir eles com você, na esperança de que te ajudem.
Você se pega censurando suas próprias conquistas. “Não foi nada demais”, “Tive sorte” ou “Qualquer um conseguiria”.
Você tem muitos conhecidos, mas poucos confidentes Pessoas para happy hour? Muitas. Alguém para chorar às 3h da manhã? Quase ninguém.
Você se sente como uma impostora. Mesmo com todas as conquistas, existe aquela voz interior que diz “um dia vão descobrir que você não é tão boa assim”
Você está sempre no papel de conselheira. Todos procuram você para desabafar, mas quando foi a última vez que você se permitiu ser vulnerável com alguém?
Fez sentido aí?
Sabe, existe algo que chamo de “solidão do pedestal” – quanto mais sucesso alcançamos, mais as pessoas nos colocam num lugar elevado, aparentemente invejável, mas profundamente solitário.
“Você é tão forte”, “Você consegue tudo que quer”, “Você não precisa de ajuda”.
E, como quem deseja manter o bom conceito dos outros a nosso respeito, sem perceber, nos isolamos ainda mais. Não por escolha, mas por falta de espaços seguros para sermos verdadeiramente nós mesmas.
O Preço do Silêncio
O que muitas de vocês não percebem é que esse isolamento tem um preço. Em minha prática clínica, vejo constantemente como essa solidão se manifesta através de ansiedade crônica, perfeccionismo paralisante, dificuldade em confiar, relacionamentos superficiais e o mais comum de todos: exaustão emocional.
Uma das descobertas mais poderosas que faço junto às minhas clientes é que não precisamos carregar esse peso sozinhas. Na verdade, não devemos.
Precisamos de espaços seguros onde possamos celebrar nossas conquistas sem medo de parecer arrogantes, compartilhar nossas inseguranças sem medo de perder credibilidade, ser vulneráveis sem medo de julgamento, pedir ajuda sem medo de parecer fraca.
A solução para essa solidão não está em ter mais seguidores no Instagram ou mais contatos no LinkedIn. Está em cultivar conexões profundas e autênticas.
Agora, a pergunta de um milhão de dólares: Como fazer isso?
Pratique a vulnerabilidade seletiva. Escolha cuidadosamente com quem compartilhar suas verdades. Nem todos merecem acesso à sua vulnerabilidade. Ela não é para todo mundo. Crie seus próprios espaços seguros e, neles, fale sobre as suas experiências. Pode ser um grupo pequeno de amigas, um círculo de mulheres, ou um espaço terapêutico. Você vai ficar surpresa ao descobrir quantas se identificam com as suas queixas e anseios.
Aprenda a receber. Assim como você está disponível para os outros, permita-se ser apoiada também. Peça ajuda. Desabafe. Reclame quando tiver com problemas. Esteja aberta para ouvir as situações que outras pessoas tem a oferecer para o seu problema.
Uma Nova Narrativa
É possível ser bem-sucedida e vulnerável & autêntica. É possível ser forte e vulnerável. É possível ser líder e pedir ajuda. É possível ter conquistas e admitir medos.
O sucesso não precisa ser solitário. Na verdade, ele é muito mais doce quando compartilhado com pessoas que verdadeiramente nos compreendem e celebram.
A boa notícia é que existe uma revolução acontecendo. Uma revolução silenciosa onde mulheres estão começando a se reunir, compartilhar suas verdades e criar espaços seguros umas para as outras.
É uma revolução que começa quando uma mulher olha para outra e diz: “Eu também me sinto assim”. É um movimento que cresce cada vez que escolhemos a autenticidade sobre a aparência, a vulnerabilidade sobre a perfeição.
E você, está pronta para fazer parte dessa revolução?
P.S.: Em março, estou criando um espaço seguro para mulheres como você – um lugar onde podemos ser autênticas, vulneráveis e fortes, tudo ao mesmo tempo. Fique atenta para mais informações em breve.