Transformando culpa em autocuidado

Ela entrou na reunião com um sorriso nervoso no rosto. “Chlô, preciso te confessar uma coisa”, disse, ajeitando-se na cadeira. “Cancelei um compromisso com a família no fim de semana porque estava exausta. Mas agora estou me sentindo a pior pessoa do mundo.”.

Como psicóloga especializada em autocuidado, essa é uma confissão que escuto quase diariamente no consultório. A culpa por priorizar o próprio bem-estar é uma das maiores barreiras que impedem mulheres de praticarem um autocuidado verdadeiro e consistente.

Mas por que nos sentimos tão culpadas ao nos colocarmos em primeiro lugar?

A resposta é mais profunda do que imaginamos. Desde muito cedo, absorvemos mensagens sutis (e às vezes nem tão sutis) sobre abnegação e sacrifício. “Mãe não pode ficar doente”, “Mulher forte aguenta tudo”, “Tão bonito como ela pensa primeiro nos outros”, etc.

Ouvindo frases como essas, e observando como se comportam a maioria das mulheres ao nosso redor, vamos construindo uma relação complexa com o ser mulher e autocuidado. Uma relação em que cada momento dedicado a nós mesmas vem acompanhado de uma dose pesada de culpa.

Para saber se você caiu vítima dessa doutrinação, responda se você sentiria culpa ou não ao fazer as seguintes atividades. Tirar uma tarde só para você. Dizer não para um pedido de ajuda. Gastar dinheiro com terapia. Fazer uma aula de yoga no YouTube em vez de lavar a louça. Dormir até mais tarde tendo coisas para fazer.

E aí? Sentiria culpa em quantos deles?

Para irmos mais fundo, vou compartilhar com você o que aprendi ao longo dos anos atendendo mulheres. Identifiquei alguns padrões comuns que revelam quando a culpa está sabotando seu autocuidado.

Você só se permite descansar quando está doente. O corpo precisa literalmente colapsar para que você se permita uma pausa.

Você pede desculpas por necessidades básicas, até sem perceber. “Desculpa, mas preciso almoçar”, “Perdão, mas hoje não posso ajudar”.

Você negocia consigo mesma. “Só vou à massagem se terminar todas as tarefas”, “Só mereço descansar se…”. Como se precisasse responder a algumas expectativas antes de merecer cuidar de si.

Se você se identificou com alguma dessas situações, bem vinda ao clube! Quero que saiba: você não está sozinha. E mais importante: essa culpa não é sua, mas foi instalada em você.

Uma das principais e mais dolorosas consequências da culpa, é que você deixa de fazer por você para fazer pelo outro. Afinal, se vai se sentir culpada fazendo por você, por que raios faria? Melhor fazer o que foi treinada à fazer; cuidar do outro.

Desse ciclo que desenvolve-se o que é muito mais comum do que gostaria que fosse: mulheres cronicamente disponíveis.

Em minha prática clínica, observo diariamente o custo dessa disponibilidade constante, que se manifesta ora em burnout, ora como ansiedade crônica, em relacionamentos desgastados, em ressentimento acumulado, mas SEMPRE, através da perda de conexão consigo mesma.

E sabe qual é a ironia? Quanto mais nos negligenciamos, menos temos para oferecer aos outros.

E é por isso que eu bato há tantos anos na mesma tecla: autocuidado não é egoísmo. É uma necessidade fundamental. Como sempre digo às minhas clientes e seguidoras: jarra vazia não enche o copo de ninguém!

Agora, como transformar essa culpa em autocuidado consciente?

Reconheça a origem da culpa. A culpa que você sente não nasceu com você. Foi aprendida. E o que é aprendido pode ser desaprendido.

Questione os “deveria”. Toda vez que você pensar “eu deveria…”, pare e pergunte: “Segundo quem?”

Comece Pequeno. Autocuidado não precisa significar dias no spa (embora possa!). Pode começar com 5 minutos de respiração consciente.

Pratique o “não amoroso”. Se treine a dizer “Não posso ajudar agora, mas agradeço por pensar em mim” quando for convidada a algo que você não quer comparecer. Simples assim. Sem justificativas extensas.

Coloque o check-in na rotina. Três vezes ao dia, pare e pergunte a si mesma: “O que eu preciso neste momento?”.

Imagine se, em vez de ver o autocuidado como algo egoísta, você passasse a vê-lo como um ato de amor – não só por você, mas por todos ao seu redor.

Veja bem, quando você se cuida, sua energia aumenta, sua criatividade floresce, sua presença se torna mais genuína, seu exemplo inspira outras mulheres e, claro, seus relacionamentos melhoram.

O que estou propondo aqui é mais do que uma mudança de hábitos – é uma revolução. Uma onde cada mulher que escolhe se cuidar sem culpa abre caminho para que outras façam o mesmo.

É uma revolução que começa com pequenas escolhas. Com um “não” dito com amor. Com uma pausa tirada sem desculpas. Um limite estabelecido com firmeza. No descanso permitido sem negociação.

E principalmente, é uma revolução que começa quando entendemos que cuidar de si não é um luxo – é uma necessidade.

Por fim, quero te convidar a refletir nas seguintes perguntas:

O que mudaria na sua vida se você se permitisse se cuidar sem culpa?

Como seria dedicar a si mesma o mesmo cuidado que dedica aos outros?

Que pequeno ato de autocuidado você pode fazer hoje?

Porque no final, a questão não é se você tem tempo para se cuidar, mas se você pode, de fato, se dar ao luxo de não fazê-lo.

P.S.: Em março, estou criando um espaço seguro onde mulheres como você poderão aprender e praticar o autocuidado sem culpa, com suporte e acolhimento. Se você quer saber mais, fique atenta às novidades que estão por vir!

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